domingo, 23 de outubro de 2011

O mercado é a sociedade

José Ricardo Roriz Coelho*

O relatório sobre a economia mundial recentemente divulgado pelo FMI (Fundo Monetário Internacional), no qual cai para 3,8% a projeção de crescimento do PIB brasileiro em 2011, mostra claramente quão correta foi a diminuição da taxa básica de juros decidida na última reunião do Copom, e evidencia a importância das mudanças que se observam na política macroeconômica do governo. A presidente Dilma Rousseff, ao anunciar o Plano Brasil Maior, apesar deste estar muito longe de restabelecer uma competitividade mínima para se produzir no País, deixou claro ser necessário estimular a produção, conter a desindustrialização e priorizar o crescimento econômico. Tudo isso, sem deixar de manter a inflação dentro de parâmetros adequados, de modo congruente com as atribuições indiscutíveis do Banco Central.

Embora o raciocínio seja correto, considerando que o Brasil deu-se bem no contexto da crise mundial ao estimular o consumo interno e adotar medidas emergenciais de fomento e levando em conta o presente quadro de incertezas nos Estados Unidos e Europa, o novo olhar do governo e das autoridades monetárias para os setores produtivos gera reações adversas. As mais incisivas, as vezes corroboradas por consultores e economistas voltados as análises de conjuntura macroeconômica, vem do setor financeiro, que insistentemente parece querer comandar as tendências das políticas públicas relativas a economia.

Obviamente, esse segmento é de extrema importância e não se pode negar-lhe o mérito da boa gestão no Brasil, da solidez e da responsabilidade de nossos principais bancos, que foram fatores importantes para que, em 2008 e 2009, ficássemos menos suscetíveis a crise internacional. No entanto, tais virtudes não significam predominância sobre os demais setores e tampouco acima dos interesses maiores do País, que deve priorizar a produção, a criação de empregos em larga escala, a geração de renda por meio dos investimentos produtivos e do trabalho e sua distribuição mais justa, através dos salários.

O setor financeiro não é o Brasil, mas sim integrante de toda uma economia complexa, na qual não podem ser preteridos os que geram produtos, bens e serviços mensuráveis pelo valor agregado, investimentos, mão de obra ocupada, renda e tecnologia empregada e atendem as demandas do mercado interno e exportações. Também é importante lembrar que o investimento em produção, hoje, é condição fundamental para evitar o crescimento da inflação amanhã. O mercado, a rigor, somos todos nós; é a sociedade, que sofre com a precariedade do ensino e da saúde, as agruras da insegurança pública e as incertezas sobre o futuro imediato, num mundo volátil e marcado por crises intermitentes.

Apesar desse contexto desafiador, estamos diante de grande oportunidade para remover alguns entraves a um novo salto de progresso socio econômico nos próximos anos. Temos boas condições para aprofundar o fortalecimento do mercado interno, no qual ingressaram 53 milhões de pessoas desde 2003 (estudo “O emergente dosemergentes” - Fundaçao Getúlio Vargas/BID). Uma questão menos debatida, mas igualmente importante, é como será atendida a demanda criada pela manutenção dessa tendência de crescimento da renda da população. É primordial o fortalecimento da indústria, de modo a evitar uma excessiva dependência externa, e, principalmente, gerar, pelos efeitos diretos e indiretos que o setor possui em toda a economia, o necessário aumento no emprego dos milhões de brasileiros que ingressarão no mercado de trabalho nas próximas décadas.

O Brasil detém diversos atributos dificilmente imitáveis, dentre eles a maior área agricultável do Planeta para a produção de alimentos e biocombustíveis de fonte limpa e renovável, uma riquíssima dotação de matérias-primas básicas essenciais ao funcionamento da economia mundial, e matriz energética na qual predomina a hidroeletricidade, a melhor resposta para os desafios da sustentabilidade. Todavia, todas essas vantagens comparativas não tem se traduzido em diferenciais competitivos, o que resulta em um ritmo de desenvolvimento econômico muito mais lento do que o dos países com os quais o Brasil concorre no mercado internacional e ainda insuficiente para as necessidades da sua população em termos de criação de emprego e renda.

Portanto, nao temos de continuar patinando nos juros altos, que, no âmbito da economia de mercado, favorece um único setor, o financeiro, em detrimento da sociedade como um todo. Torna-se urgente aumentar a eficiência do Estado e solucionar, sem mais demora, a questão tributária, realizando a todo custo as mudanças que esperamos há mais de duas décadas, desde a promulgação da Constituição de 1988. Outras medidas prementes são reduzir a burocracia e acabar com o gargalo da infraestrutura, que também onera a produção.

O Palácio do Planalto tem sinalizado no sentido de que percebeu tais prioridades e que, paulatinamente, volta-se a seu atendimento. É hora de estimularmos essa concepção de atuação do Estado, mais focada no desenvolvimento econômico, em lugar de uma visão exclusivamente de curto prazo. Não há mais como postergar a solução dos problemas crônicos da economia real. É hora de perguntar sobre qual futuro queremos ter: eterno emergente ou nação do primeiro mundo?

*José Ricardo Roriz Coelho é presidente da Associaçao Brasileira da Indústria de Plástico (Abiplast) e da Vitopel e diretor titular do Departamento de Competitividade e Tecnologia da FIESP.

Rio de Janeiro abre suas portas à inovação

Por Moacyr Piacenti, José Roberto Adelino da Silva e Antonio Carlos Rocca*

O País vive um momento especial de crescimento e desenvolvimento. Para consolidar essas tendências, tem buscado reforçar seu potencial inovador, inclusive com a adoção de estímulos oficiais, como o plano “Brasil Maior”. Um dos expoentes deste momento, o Rio de Janeiro é lembrado por contar com grande potencial para a geração de negócios e inovação nos mais variados setores. Afinal de contas, além dos megaeventos esportivos que sediará em 2014, com a Copa do Mundo de Futebol, e em 2016, com os Jogos Olímpicos, o Estado assistirá, certamente, a um período de desenvolvimento muito intenso em setores como os de infraestrutura, telecomunicações, energia (em especial petróleo e gás), indústria naval, saúde, turismo e serviços.

Muitos têm dito que o Rio vive o seu “renascimento”. Mesmo considerando que o termo contém componentes verdadeiros, não podemos esquecer que o Estado há muito tempo é um dos motores do desenvolvimento nacional. Afinal, vem das terras fluminenses a maior parte de nossa produção petrolífera. Por isso, vem também dali expressiva produção tecnológica, que tem permitido às empresas brasileiras estarem entre as líderes na exploração de óleo cru em águas superprofundas em todo o mundo. Por isso, parece-nos mais adequado qualificar o movimento que impulsiona o Estado como o do encontro de suas potencialidades com a adequada e responsável iniciativa de gestores atentos em valorizar essas oportunidades latentes.

O Rio preparou-se para estimular a capacidade de gerar inovação em suas instituições de ensino, entidades e empresas. No início de 2010, o governo fluminense regulamentou a Lei 5.361, que institui um programa local de incentivo à inovação tecnológica. Pela legislação, a Faperj pode ter participação minoritária no capital de empresas privadas para o desenvolvimento de projetos de produtos ou inovação. O objetivo é estimular a integração entre instituições científicas, tecnológicas e universitárias com agências de fomento à pesquisa e empresas para a produção e uso efetivo das inovações.

Outras instâncias engajam-se no estímulo às iniciativas inovadoras. A Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia lançou, este ano, edital público, no valor de R$ 10 milhões, para convocar projetos de inovação tecnológica destinados ao desenvolvimento local.

Também têm surgido e se consolidado no Estado diversas entidades de apoio à produção inovadora, integrando a academia e o setor produtivo. Este é o exemplo de um novo centro de desenvolvimento tecnológico em formação na Ilha do Fundão (capital fluminense), que reúne dezenas de empresas e entidades de pesquisa em torno da UFRJ, e vem sendo chamado de “O Vale do Silício do Pré-sal”. Pretende-se que o local seja um centro de inteligência dedicado à geração de tecnologias e conhecimento para a exploração de petróleo e gás.

Há, ainda, um grande número de incubadoras de empresas de base tecnológica ligadas às universidades locais, como as da COPPE/UFRJ, da UERJ, da UFF, da PUC-Rio e do Ibmec, dentre tantas outros. Nesses celeiros de fomento à inovação, os impulsos criativos e tecnológicos são convertidos diretamente em produtos, iniciativas ou serviços de fato inovadores, que contribuirão para movimentar a economia global a partir de iniciativas locais.

Fica claro que os investimentos que fazem da economia fluminense uma das mais importantes de todo a América Latina tendem a redundar na produção intensa e efetiva de soluções e de agentes inovadores. E são muitos e diversificados os polos aos quais se tem direcionado o aporte de capital: Copa do Mundo, Olimpíada, fortalecimento da infraestrutura, segmentos produtivos, como as indústrias naval e petroleira, turismo, modernização das cidades e da gestão governamental, educação, pesquisa e desenvolvimento e tantos outros setores importantes.

Vale lembrar que aqueles que atuam valorizando a inovação têm ao alcance outros benefícios, que podem ser aproveitados inclusive em território fluminense, como é o caso da chamada “Lei do Bem” (Lei nº 11.196/2005), que consolidou, em nível federal, os incentivos fiscais às empresas que realizem pesquisa tecnológica e desenvolvimento de inovação, e do plano “Brasil Maior”, que amplia os benefícios de empresas que recorrem à “Lei do Bem”. Tomando em consideração todos esses elementos, o Rio de Janeiro torna-se, sem qualquer dúvida, um Estado amplamente atrativo aos empreendedores, especialmente aqueles que investem em inovação como diferencial.



*Moacyr Piacenti e José Roberto Adelino da Silva são sócios e Antonio Carlos Rocca é consultor da KPMG no Brasil.