quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Sobre desindustrialização no Brasil e comércio internacional


Existem diversas correntes, tanto no governo quanto no meio empresarial, ora entendendo que há desindustrialização, ora garantindo que o país está em franca expansão. O comércio internacional é sim uma necessidade em um mundo globalizado. Apenas deve ser regido por regras corretas e não predatórias. A nossa defesa será na igualdade das relações comerciais internacionais. Não é possível e nem viável economicamente concorrermos com regras desiguais. Assim, vamos buscar, em todos os níveis da gestão pública e privada, a melhoria da nossa competitividade. Temos muitas lições de casa para fazer em nossas empresas. E o governo precisa reorganizar muitas das regras atuais. As últimas ações tomadas pelo governo federal no sentido de alavancar o setor industrial mostram claramente o entendimento de que havia “algo errado” no ar. Gradativamente pode-se perceber uma melhora. Entretanto, há setores que continuam sofrendo e o ferramenteiro é um deles. É preciso esclarecer que tanto os entraves quanto os desafios estão postos para duas componentes importantes da cadeia produtiva: os empresários e os governos municipal, estadual e federal. Nossos desafios, no setor ferramenteiro, vão além da carga tributária excessiva, da escassez de mão-de-obra qualificada, dos maciços investimentos em tecnologia e das dificuldades de gestão do negócio nos mais diversos aspectos. Estes fatores e a concorrência internacional acirrada que temos enfrentado nos últimos anos exigiram que nos concentrássemos em buscar ações rápidas para superar essa fase.
Um grande diferencial e impeditivo para o crescimento dos fabricantes nacionais é a complexa legislação de nosso país. Além de diversas outras leis, precisamos urgentemente regulamentar o comércio exterior de ferramentais, por exemplo, na exigência de responsabilidade técnica nos moldes importados. As ferramentarias nacionais são monitoradas pelo Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (CONFEA), que exige, por meio de seus Conselhos Regionais de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (CREA) e de uma lei federal, a Anotação de Responsabilidade Técnica (ART), onde um profissional (engenheiro ou técnico mecânico) assina a responsabilidade pelos produtos fabricados aqui. Entretanto, um ferramental importado não tem essa exigência. Isso tem dois lados negativos: o primeiro é uma desigualdade com os fabricantes nacionais e o outro, é a falta de um responsável em caso de alguma falha técnica ou acidente. Neste caso, o próprio cliente é o prejudicado. Outro desafio (não menos importante) é a redução ou eliminação de cobrança de impostos sobre os meios produtivos. Em qualquer país desenvolvido os impostos sobre a venda de máquinas são mínimos (ou até não existem), pois elas são a base da indústria de um país. O imposto deve ser cobrado na ponta, sobre o produto produzido. Nestes países, o acesso a financiamentos é facilitado. As taxas de juros são baixíssimas. Também a revisão da legislação trabalhista, no sentido de desonerar a folha, traria fortes benefícios à competitividade de todos os setores produtivos do Brasil. Esse item já está sendo negociado entre empresários, governo e sindicatos. Por fim, a reforma fiscal e tributária é a única saída para o futuro desse país. Essas são tarefas a serem conduzidas junto aos órgãos públicos. As medidas tornariam os custos de fabricação bem mais enxutos e, consequentemente, o preço final muito mais atrativo. São muitos os desafios para superar, mas todos possíveis de realizar no curto e no médio prazos.
Christian Dihlmann, Presidente da 
Abinfer - Associação Brasileira da Indústria de Ferramentas

Nenhum comentário:

Postar um comentário