sexta-feira, 6 de maio de 2011

Maior interação na cadeia de valor do plástico

O Jornal de Plásticos realizou nova entrevista com José Simantob Netto, economista, com 42 anos de experiência na Petroquímica e nos Plásticos, em diversos cargos de gerência e direção, em empresas nacionais e multinacionais, tanto do setor de produção de resinas quanto da transformação, além de entidades de classe setorial. Hoje se dedica a prestar consultoria na área de estratégias empresariais e setoriais, governança corporativa e sucessão nas empresas familiares (principalmente de capital fechado), projetos para alavancagem financeira, etc..

JP - Sr. Simantob, na sua última entrevista (edição do JP on-line de jan/fev 2011) o senhor sugeriu uma maior interação na cadeia de valor do plástico no sentido de tornar a ponta da cadeia mais competitiva a fim de evitar o risco de desindustrialização. Acredito que o seu modelo foi teórico como é possível realiza-lo na prática?
Simantob – Apesar do Custo Brasil que apontei ( juros mais altos do mundo, carga tributária insuportável, apreciação do real, etc.) é possível baixar o custo da matéria prima para os transformadores aos níveis de preços de China, Oriente Médio e Estados Unidos. Isto vai depender de uma vontade política do governo, uma vez que o monopólio das resinas é estatal/privado. A relação ganha –ganha entre produtor das resinas/transformador poderá se dar baixando os preços das resinas aos níveis dos mercados mais competitivos acima. Esta seria a maneira de tentar deter importações, promover exportações e fortalecer a cadeia como um todo.

JP – Sr. Simantob, de onde o senhor tirou esta idéia?
Simantob – Não tirei esta idéia de ninguém e de nenhum lugar. Formei esta idéia a partir de publicações disponíveis (da Braskem, Jornal de plásticos, e outros), apresentações em Congressos e Seminários (David Kupfer da UFRJ, Robert Bauman da Nextant/ Chemsystems, Armando Guedes Coelho na APIMEC/BOVESPA e outros) e o belíssimo estudo patrocinado pela ABDI. Entretanto, por falta de vontade política pouco ou nada foi feito de positivo pela nossa competitividade até agora, mesmo com tanto material de leitura, estudos apresentações.

JP – Sr.Simantob, porém como baixar os preços das resinas se o Brasil não é competitivo com Estados Unidos e Oriente Médio, onde as olefinas (eteno e propeno) são obtidas diretamente do gás natural (etano e propano), podendo gerar polímeros (PEBD, PEAD, PP, ) etc. a custos menores ?
Simantob – Desculpe a minha simplicidade de raciocínio. Se Allah foi generoso com meus “primos” islâmicos no Oriente Médio, proporcionando a eles o Gás Natural à flor da terra , Deus foi ainda mais generoso para os irmãos cristãos no Brasil. Senão vejamos o que ele nos deu:

·População de 180 milhões de habitantes com crescente poder aquisitivo;
·Frota crescente de 38 milhões de veículos automotores, ou seja, um veículo automotor para cada 6 habitantes;
·Consumo de 117 bilhões de litros de combustíveis em 2010;
·Uma PETROBRÁS realizando o lucro líquido recorde de R$ 35 bilhões;
·Estabilidade política;
·O livre arbítrio para escolha entre cruzar os braços e agir.

Agindo com a implementação de uma pequena taxa sobre o valor dos combustíveis vendidos no país e/ou um pequeno subsídio do mar de petróleo chamado Petrobrás poderia nivelar o custo das nossas olefinas aos custos internacionais favorecendo, tanto o produtor de polímeros quanto a transformação. A decisão terá que ser política.

JP - Mas, com isso, não existe o perigo de só um lado ganhar. Por exemplo, o lado do produtor de resinas?
Simantob – Aí o governo tem uma arma na mão que é a redução de alíquotas de importação de resinas inserindo efetivamente a cadeia de valor do plástico, na economia global da livre concorrência.

JP – O senhor já tem alguns números ou cálculos de quanto seria esta taxa e /ou valor de eventuais subsídios?
Simantob – Não tenho cálculos! Apenas estou sugerindo uma metodologia global que talvez tivesse que ser desenhada e implementada por consultores técnicos - financeiros independentes, afim de que não haja dúvidas sobre isenção ou conflito de interesses.

JP – O governo concordaria com isso?
Simantob – Depende de como se venda esta política Industrial no maior interesse da nossa economia. A China já faz isso. Talvez pela orientação milenar de BUDA, aos meus amigos chineses. Nem precisamos reinventar a roda.

JP - Alguma consideração final?
Simantob – Parafraseando Saint Exupéry em seu famoso livro “O Pequeno Príncipe”, quem conquista se torna responsável. A Petrobrás conquistou o direito do monopólio na Petroquímica e, agora, na minha visão o Governo é moralmente responsável pelos riscos por que passa a cadeia de valor.

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